terça-feira, 14 de setembro de 2010

O meu pequeno herói... parte II


O Rodrigo permaneceu nos cuidados intensivos do Hospital Pediátrico de Coimbra cerca de 1 semana e meia após o despertar do coma! Foi necessário deixar o corpo dele ganhar forças e permitir que os orgãos voltassem a trabalhar sozinhos de forma a poder retirar-lhe o ventilador e o pacemaker externo (que permanecia ligado ao coração, através de dois fios pequeninos cosidos no peito)! Findo esse tempo, foi transferido para o serviço de Medicina onde deveria continuar com o antibiótico intra-venoso o tempo necessário até a bactéria estar totalmente eliminada!
Os progresso eram visíveis de dia para dia: estava com mais tónus muscular e aumentava de peso de forma constante! No entanto, ao fim de alguns dias, o peso diminuíu drasticamente: perdeu sensivelmente 100g em 24 horas (podem pensar que não é muito, mas para um bebé de 3 meses e meio a pesar 3Kg, 100g faz toda a diferença!); e mais de 200g em 48h! Eu podia vê-lo a definhar nos meus braços!!! Fui inundada por um sentimento horrível de impotência... ver o meu filho a partir e não poder fazer nada! Foram feitos uma série de exames para tentar perceber a origem desta perda de peso e todos eles se revelaram infrutíferos! Estávamos a ficar sem tempo... entretanto o desespero tinha tomado conta de mim! Numa derradeira tentativa, uma das médicas cardiologistas deste serviço, decide fazer uma TAC cardíaca, num Domingo, às 22:00h (lembro-me perfeitamente do dia e das horas, pois não me vou esquecer da cara do radiologista, que deixava transparecer a "alegria" de quem tinha sido arrancado do sofá da sua sala num domingo à noite!!!).
Finalmente uma resposta, não muito animadora é certo, mas pelo menos os médicos já saberiam o que fazer! Afinal o Rodrigo tinha colapsado o pulmão esquerdo devido ao aumento de volume do coração (frequente após as cirurgias de coração aberto) e devido a uma hérnia do hiato (porção do estômago que sobe para a caixa toráxica, pelo diafragma)! Os médicos estavam incrédulos pois as saturações que o Rodrigo apresentava de oxigénio no sangue nunca tinham descido abaixo dos 96%, o que não constituía uma pista para o diagnóstico! Foi marcada uma broncoscopia (intervenção médica através da qual se aspiram as secreções que entopem os brônquios) de emergência para o dia seguinte, onde lhe conseguiram insuflar o pulmão! Infelizmente, na semana seguinte voltou a colapsar o pulmão e repetiu a broncoscopia! Apesar desta intervenção resolver o problema no imediato, não era uma solução definitiva! Assim, os médicos abordaram-me para propôr nova cirurgia ao estômago: desta vez para eliminar a hérnia do hiato e para fazer um "nissen" (que é uma espécie de gravata que fazem à volta do esófago, utilizando parte do estômago de maneira a impedir ou diminuir acentuadamente o número de vómitos)! Apesar de estarmos assustadíssimos, tanto eu, como o meu marido concordámos em fazer a cirurgia, pois da maneira como o Rodrigo estava não seria possível trazê-lo para casa!
Sendo assim, aos 4 meses de idade fez a segunda cirurgia gástrica, com sucesso e com um pós - operatório sem sobressaltos! Finalmente... o meu coração também já precisava de um intervalo!!!
Com 5 meses, o Rodrigo teve alta do hospital e pôde disfrutar da sua casa alguns meses seguidos, sem interrupções! Apesar de ser o que mais desejávamos... estar em casa com o nosso menino... lembro-me de que tanto para mim como para o meu marido, esse foi um momento "agridoce"! De facto, tanto mês a contar com o apoio das (os) enfermeiras(os) e a observar constantemente os equipamentos que monitorizavam os sinais vitais do Rodrigo... de repente sentimo-nos desamparados! A primeira noite foi angustiante, pois de cada vez que o meu menino se mexia na sua caminha, eu levantava-me logo e punha-me a percorrer o quarto com os olhos à procura do oxímetro (aparelho que mede as saturações de oxigénio no sangue)! Este regresso "agridoce" foi mais fácil de ultrapassar devido à dedicação e esforço da nossa enfermeira de referência, a nossa querida Enfermeira Elisa, que viajou ao nosso lado nesta montanha russa de emoções e soube sempre ter a palavra certa e um ombro amigo em todos oa momentos!
Para um maior esclarecimento, devo informar que no serviço de Medicina deste hospital, é destacada a cada família com internamentos prolongados ou tratamentos crónicos, uma enfermeira (o) de referência, a quem a família recorre para esclarecimento de dúvidas, apoio, para servir de mediador com a equipa médica, etc. É uma iniciativa que deve ser distinguida e deve ser tomada como exemplo pelos restantes serviços e hospitais de pediatria, pelo país fora!

... to be continued!

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