quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quem sou?

Cheguei aquele determinado momento da vida em que todos se questionam sobre quem são! Já se passou o mesmo com vocês? Ou será que sou só eu?
Bem, até há dois anos atrás eu sabia perfeitamente quem eu era, o que queria e para onde ía! Sabem como é? Tinha tudo planeado: estava a trabalhar na minha área de formação académica (tinha um emprego onde desempenhava as funções de directora técnica), tinha acabado de casar com um homem fantástico (que me fazia sempre sorrir), tínhamos comprado um apartamento lindíssimo (que ainda estavamos a mobilar.. muito devagarinho), e tínhamos trocado o carro comercial por um outro de 5 lugares (já a pensar em aumentar a família). Como podem ver, tudo perfeito e tudo muito bem planeado... agora só faltava vir o "rebento" para a minha vida ficar perfeita!
A 20 de Março de 2008, os nossos desejos foram realizados, com o nascimento do nosso lindo menino, a quem chamamos de Rodrigo! Sim... Rodrigo, é um nome forte, de herói, vai ser um valentão (mal sabia eu que este nome lhe viria a assentar que nem uma luva!)Com o meu menino a dormir profundamente nos meus braços, eu só pensava nos planos todos que eu e o meu marido tínhamos para ele, as primeiras palavras, o primeiro passo, o primeiro jogo de futebol com o pai, a primeira namorada (uhm... será que vou gostar dela??), a ida para a universidade... enfim, é só para ficarem com uma ideia de onde a minha mente já ía!
Mas a vida pregou-nos uma partida: o nosso menino nasceu doente, com inúmeras malformações consistentes com um síndrome, o qual permanece ainda por diagnosticar!
Assim, de um dia para o outro, tivemos que eliminar da nossa cabeça todos os planos que tínhamos para o Rodrigo, para que pudessemos aprender a fazer novos planos dia após dia! "Tens que desconstruir a realidade esperada, para aceitar a realidade em que vives!", diziam uns... "Tens que aprender a viver um dia de cada vez!", repetiam outros... naquela altura, eu ouvia essas palavras, mas não conseguia entender o significado das mesmas, pareciam uma língua estrangeira!
Foram momentos difíceis, angustiantes e dolorosos! Talvez estes sentimentos tivessem sido agravados pelo facto de nós termos ficado a viver no hospital pediátrico praticamente um ano (ainda que não tenha sido seguido) e de sentir um rasgo no coração cada vez que o meu filho era submetido a mais uma cirurgia! Senti a dor de mãe!
Eventualmente, fomos permanecendo cada vez mais tempo em casa, eu podia finalmente disfrutar do meu bebé e do meu marido, podíamos ter serões em família! É engraçado como damos valor às mais pequeninas coisas quando somos privados delas! Por exemplo, lembro-me de adorar tomar um duche no meu chuveiro, cada vez que regressava do hospital e de me sentir a pessoa mais feliz do mundo!
Nesses dois anos, experienciei muitas emoções e sentimentos que nem sabia que eram possíveis de ter, andava na montanha russa da vida... de facto, às vezes mais parecia que vivia de cabeça para baixo: o mundo estava ao contrário! Mas com o passar do tempo, com muito apoio do meu marido, familia, amigos de longa data e novos amigos (que encontrei no grupo de auto-ajuda Diferentes e Especiais), o mundo acabou por se endireitar! Já não estou empregada (sou uma "mummy" a tempo inteiro), continuo com o meu marido adorado (que ainda me faz rir), o apartamento está todo mobilado e o carro de 5 lugares às vezes não chega para tanta logistica que normalmente diz respeito aos nossos passeios de família!
Fui uma verdadeira aprendiz da VIDA, recebi a minha lição: não importam os planos, importam as pessoas; não importam os bens, importam os sentimentos; não vale a pena andar a correr, pois quando dermos conta, quem passou por nós a correr, foi a nossa vida, e aí será tarde demais para a apanhar!
Hoje, sinto apenas amor de mãe... amor este que é acentuado por todas as vitórias que o meu filho conquistou, como um verdadeiro guerreiro... um verdadeiro herói... o herói Rodrigo!

11 comentários:

  1. Pois é cristina.....a vida por vezes prega-nos partidas fortes e dificies de aceitar.
    Nós tambem fomos apanhados por uma dessas partidas.....
    E de repente a nossa vida alterou-se, a Leonor hoje com 17 meses e portadora de um sindrome de sotos, já diagnosticado pela genética, tornou-nos mais fortes, mais hábeis, mais lutadores, mais corajosos e sobretudo tambem começamos a dar valor á mais piquena coisa deste mundo.
    Enfim... foi o destino...foi a vida... não sei. O que sei é que somos país de uma menina linda muito amada e sobretudo uma menina muito muito feliz...
    beijinhos
    fernanda pita

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  2. Como vos ADORO. Como sou uma Amiga e uma "Tia" Orgulhosa. Não há palavras que descrevam o que sinto quando penso em vós, quando falo da minha Cris e do seu filho Rodrigo... Não há palavras para qualificar a Vossa Coragem, apenas se pode sentir como eu sinto... por ti, pelo Rodrigo, pelo Quim. Sempre perto...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Ser diferente é ser especial!
    Coragem e tudo de Bom para o Rodrigo.

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  5. Fernanda, às vezes sinto que estou a meio de um capítulo de um livro de aventura, em que o Autor que o escreveu sabe como é que acaba, e sabe também que mais ninguém conseguiria desempenhar este papel! Já sentiu o mesmo?

    Patrícia (aDreamer)... mau, mau, já me puseste uma lágrima no canto do olho! ;)

    Paula, agradeço a mensagem de força!
    A todas um Bem-hajam!

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  6. Tal como tantos outros, os problemas de saúde de uma criança que um dia será adulto, remetem-nos muitas vezes para "narrativas de tragédia pessoal". E se por um lado é incontornável e marcante a história de vida do Rodrigo, por outro ele ensinou a todos os que o amam e acompanham, que é possivel uma "narrativa de transformação pessoal e social", uma "narrativa de esperança, de luta e sorrisos". Obrigado Rodrigo!
    Aproveito ainda para dizer que o pequeno guerreiro é filho de uma grande guerreira."Filho de peixe sabe nadar". Ninguém é mãe só porque teve um filho, é-se mãe quando se ama de forma incondicional, lutando-se pelo melhor dos nossos rebentos. A Cristina é uma verdadeira MÃE.
    Xiiisss da sempre Amiga e Madrinha do meu pimpolho lindo, Rodrigo!

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  7. Belita... fazes e farás sempre parte das nossas vidas; acho inconcebível que tal não fosse assim! Estava destinado as nossas vidas cruzarem-se, nada foi ao acaso (já pensaste bem nisso?)! Se fui uma guerreira é porque tive pessoas ao meu lado que me ajudaram a manter a sanidade! Tu foste a minha "pessoa", nos meus momentos de loucura (lembras-te?) Não somos manas de sangue, somos irmãs de alma e esses laços são impossíveis de quebrar! Obrigado por teres estado sempre ao meu lado!

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  8. Cristina acho que nós como Assistentes Sociais que somos, pois eu também sou, estamos capacitadas para lidar com os problemas dos outros, e por diversas vezes fazemos parte das histórias de vida dos outros.
    Mas a nossa própria história é árdua e dificil de narrar, por vezes sinto-me a vaguear como se de um sonho se trata-se......
    enfim.......Vamos viver um dia de cada vez..
    beijinhos

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  9. Cristina, conheço-te ha mt pouco tempo, mas ja te admiro muito, como acho que nao admiro mais ninguem..és um exemplo de mulher, de mae...tenho mesmo mt orgulho em poder falar contigo...continua assim...és o orgulho de quem te conhece...

    Beijo enorme,

    Renata

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  10. Ola cris, sou a Lina amiga da Aniceta.
    Ela mostrou-me o teu blog e resolvi vir aqui dar uma espreitade-la e conhecer a tua história.
    Sempre te considerei uma valentona desde o dia que te conheci, e tinha razão é mesmo muito forte!´
    A vida é mesmo assim, quando menos esperamos da-nos para traz...
    Mas não nos podemos dar por vencidos e o melhor é continuar sempre com muita coragem!

    Beijinhos.

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  11. Cristina, Quim tenho profunda admiração por vocês e pela força que se respira ao ler as palavras de Cristina. Uma beijoca bem grande, Susana Rodrigues

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